Lúcia Araújo: 2020

PARA SER Amigos da Memória Ananin - AMA

O AMA foi criado em 2007, com a culminância do Projeto Ananin (2006), que conseguiu reunir um consideravel acervo material e imaterial sobre o municipio de Ananindeua.

Qualquer pessoa pode ser um AMA, basta manifestar interesse em conhecer, cuidar com amor e ter disponibilidade para ser voluntário da causa Ananin.

Você faz um cadastro e participa de uma formação, onde será conduzido a uma experiência nova de liberdade, conhecerá pessoas de alma limpa e coração aberto a todas as situações que envolvem o cuidar de Ananindeua. Descobrirá que o conviver com as diferenças não é tão difícil assim, porque estará munido da maior arma, herança do Criador: o amor ao próximo.

Atuamos também em escolas e empresas instaladas no município, com uma exposição em que conste o próprio histórico da entidade, inserido na história do município.

Para efetivação de parcerias, lembrando sempre que é um trabalho de preservação da memória e agente conciliador entre educação e cultura, faz-se necessário:

OFICIO CONVITE: deve expor seu interesse ou evento (data, hora, local, tema), as necessidades junto ao AMA e o convite para formatar parceria;

CADASTRO DA ENTIDADE;

TERMO DE RESPONSABILIDADE;

CADASTRO DE VOLUNTARIO: é condicional que exista na entidade interessada na parceria pelo menos um voluntário que será efetivado como AMA, o qual receberá formação diferenciada(*), uma carteira de identificação e deverá ter sua camiseta com a logomarca do AMA.

PALESTRA: será ministrada palestra para o corpo administrativo, com recursos audiovisuais sobre as origens históricas do município de Ananindeua, seus símbolos municipais, sua geografia e suas lendas;

LEITURA DA CIDADE: é facultado mas de extrema importância que se faça sistematicamente um city tour pelo município, para inserir ¨alma¨ ao que foi apresentado na palestra. No caso de escolas pode-se fazer primeiro com o corpo administrativo e depois com alunos e seus pais;

CONTRAPARTIDA: a entidade deve conceder um histórico de sua fundação, se possível anexando fotos, que passará a fazer parte do acervo do AMA.

(*) A formação diferenciada para voluntários refere-se a obrigatoriedade de conhecer as origem do município mais detalhadamente, saber fazer a leitura da cidade, participar de eventos como instrutor, palestrante, recepcionista ou outra atividade que se enquadre, assim como ser comprometido com a pesquisa que lhe for designada.

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Maiores Informações:

8225-9326

Email: luciaara1@hotmail.com

LUCIA ARAÚJO DE ÔNIBUS???

Pois é...aconteceu novamente. Mas como tudo na vida acontece pro bem eu não posso me queixar. Então eu vou contar como me tornei famosa por andar de ônibus.

No início foi tudo muito difícil, quando amanheceu o dia e o pneu de minha Honda Pop estava seco (esse pop aí não é de popular não, é de possante, jovem, poderosa, aliás como eu) . Eu quis entrar em pânico porque deveria chegar na SECEL as 10h00 e um filminho de euzinha pegando ônibus me assustou. Pois bem, pensei em chamar um moto taxi, aí vem aquela velha mania de achar que ¨hoje não é para eu andar de moto¨. E lá fui eu pra a parada do bendito Maguari.

Se quiser fazer uma pausa para um copo d’agua, um café, um lanche ou, talvez uma água tônica essa é a sua chance.

Nesse pequeno trajeto até a parada - sim...porque eu moro bem tá! Perto de ônibus, do canto do peixe, onde tem o seu Antonio na beira da rua, vendendo seu pescado que ele lava num balde meio sujinho, dos bandido qui mi protege, etc. - eu lembrei de minha circunferência e da roleta, aí já fui articulando o que meu professor de hidro sempre fala: ¨abdomem contraído! abdomem contraído!¨

Quando eu vi...nossa! Lá vem um MICRO ONIBUS. Era daquele mermo, daquela cooperativa que tem em Ananindeua, qui os dono só qué ganhá e num qué gastá. Pego? Num pego? Pego? Num pego? Peguei! Eu, minha bolsa e uma pasta cheia de documentos.

Logo de cara eu já não gostei do olhar do motorista, não sei porque? No fundo tive a impressão que ele tava olhando pra minha circunferência. Mas eu fui superior, nem dei confiança pra cara dele. Peguei os dois reais que a essa altura já tava todo amassado na minha mão, olhei firme, agarrada numa vara vertical de alumínio e perguntei bem na fuça dele: ¨- quanto é mesmo?¨ Ele, sem nem me olhar, fazendo uma manobra que me jogou pro outro lado do ônibus, apontou-me o cobrador que tava na roleta.

Eu sei que dei um fora, mas da última vez que peguei micro ônibus foi pra ir do castanheira para o Iguatemi, desculpe, Patio Belém, a gente pagava pro motorista, não tinha cobrador.
E aí veio a parte da fama. Chegar no cobrador e passar na roleta! Deu pra perceber que o ônibus inteiro me olhava e eu fiquei a imaginar tudo o que se passava na cabeça daquelas pessoas. Eram apenas dois passos e eu estaria lá. Então, num esforço sobrenatural de uma pessoa chic que nunca anda de ônibus, me atirei e fiquei pendurada feito macaca numa barra de alumínio no teto do veículo. Algumas pessoas esboçaram um ¨gritinho¨, porque viram minha bravura. Pronto, agora era só eu lembrar dos meus tempos de criança naquelas barras lá do parquinho e pronto, estaria tudo resolvido. Só que naquele tempo eu não treinei com bolsa e pasta. E eu só consegui chegar no cobrador porque subiu um monte de jovens desgovernados que me arrastaram para a roleta. Alí começou a luta!

Quer ir ao banheiro? Vai logo, eu espero.

Continuando...

Vira de um lado, vira de outro e um gaiato grita: ¨Tenta de frente!¨ Eu não gostei mas tenho que admitir que cheguei a pensar nisso. Então o cobrador pediu que eu segurasse a roleta de um lado e pediu pra uma senhora idosa segurar do outro, que ele ia retirar a parte de cima da roleta. Olha, enquanto eu dançava um brega a velha ia numa valsa, o sacolejo do ônibus me jogava de encontro as barras e eu via a velha bem lampeira, tranquilona (também, eu vejo ela pegando ônibus todo dia). O cobrador sacou a roleta e eu finalmente pude passar. Então veio o sucesso! Uma chuva de aplausos e gritos de ¨conseguiu!¨ ecoaram no ar. Foi lindo!

Quando eu desci do ônibus todo mundo deu tchauzinho!

Agora, eu gostaria de aproveitar a minha fama para fazer um negócio com você, oferecer meus serviços: visto camisetas e acessórios com a marca do seu empreendimento e, em troca, pelo amor de Deus paga o conserto do meu pneu?

QUANDO A CULTURA DÁ CADEIA

Sempre senti que minha espiritualidade já veio na carga genética que recebi não de meus pais, mas diretamente de Deus através deles. A vida treinou-me para não representar simplesmente um SER HUMANO (no sentido de pessoa afetuosa, sensível, compassiva), mas um SER (verbo) HUMANO CIDADÃO (afetuosa, sensível, compassiva que mora na cidade). Definindo melhor, ¨eu me acho¨. Isso mesmo, porque sou uma pessoa afetuosa, sensível, compassiva que cuida da cidade onde mora, das pessoas e sai em defesa das causas públicas.
Com todas estas virtudes ninguém imaginaria que pudesse vir a ser ¨racista¨, e não sou mesmo! Mas um fato curioso chamou minha atenção: a cultura de brincar em certas situações deixou-me em maus lençóis diante de professoras em uma escola.

Estava lavando roupas e o telefone toca. Era uma professora perguntando se eu estaria disponível para ir até a escola naquele momento. Justificando, explicou que iriam dispensar os alunos às 10h00 e queriam aproveitar para legitimar nossa parceria para a feira da cultura, me apresentaria para as demais professoras e eu iria conhecer a escola. Como sempre, larguei tudo, tomei um ¨banho de portugues¨ , peguei minha Honda Pop e vruuummmm!

Eu sempre deixo você fazer uma pausa. Vai lá, vai, vai fazer xixi!

Bebeu água também? Agora fica quieto e lê o resto.

Pois bem, cheguei na escola e nem me deram ibope. Também, uma mulher com vasta circunferência, sentada numa motoquinha e com um capacete de Penélope Charmosa na cabeça...mas apareceu a professora que me conhecia e tudo ficou bem, apesar dos olhares de pré julgamento.

Apresentações feitas, a reunião começou. Uma hora mais tarde já estávamos todas em sintonia, os segmentos que cada uma ia trabalhar já definidos, etc... foi quando aquela professora que ficou com o tema Belezas Naturais, me pediu sugestões de lugares para fazer fotos. Dentre outros eu citei o bosque do PAAR e ela disse que iria lá no outro dia. Imediatamente eu aconselhei que não fosse sozinha, ¨vai que aparece um negão¨, disse eu. Ela retrucou, sem nenhum sorriso nos lábios, disse que não iria só, uma amiga iria junto, que morava no PAAR e que lá não morava só bandido.

Percebendo o fora que dei, antes que ela dissesse mais alguma coisa, falei: ¨Tu nun tá entendendo...eu disse um negão e não um japa... Imagine duas mulheres num bosque... sozinhas...entendeu agora?
Ela fez aquela cara de sem graça, mas sinalizou entender.

O pior vem agora.

Uma das professoras era Nissei. Agora ponha seus neurônios para trabalhar e faça suas deduções.

Os rumos que a história tomou é que foi lascado! Fomos todas parar na delegacia. Eu por ter discriminado a raça japonesa e chamado o suposto negro de negão. A outra professora por ter insinuado que todo negro é bandido.

Moral da história: eu vou torcer para que nenhum português leia este texto e queira me processar por discriminá-lo também.

Não entendeu? éééé...... eu já ia falar besteira.

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É obvio que este texto é fictício, mas foi escrito em homenagem ao Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, que nos reporta a reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira.

Pretendemos aqui mostrar que essa nossa cultura de fazer ¨graça¨ inoportuna pode nos custar muito caro. Mesmo porque temos que perder essa mania de ironizar as pessoas (é cultural). Toda e qualquer forma de discriminação, inocente, mesmo que nem percebamos (o que acontece em muitos casos onde usamos termos e frases tipo: o branquelo da padaria, Esqueleto! Dê cá um abraço! ou É uma gordinha? Que depreciam até nosso próprio amigo e nem nos tocamos), contribui para a proliferação do individualismo, afasta pessoas e passa longe de transformá-lo em um ser humano cidadão.

Lúcia Araújo

Uma viagem ao mundo Ananin! Convite.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020